quarta-feira, maio 18, 2005

Os "ses" do investidor

1ª Parte:
No nosso dia-a-dia somos confrontados com situações em que várias vezes fazemos um registo cognitivo de como lidamos com elas. Algumas esquecemos, outras lembramos para toda a vida, que servem de exemplo para quando tivermos de utilizar, novamente, as nossas "ferramentas mentais" (esquemas) pré-adquiridas e que no nosso entender são as mais válidas, permitindo-nos alguma coerência nos nossos comportamentos. Por vezes, alteramos esses esquemas mentais, visto verificarmos que estes comprometem as nossas condutas e atitudes... isto é, quando as consequências da utilização das nossas "ferramentas" se tornam negativas para nós, ou para os outros. Quantas vezes, no nosso diálogo interno (quando falamos connosco) "travámos" uma luta entre o que fizemos e o que devíamos ter feito, entre o que aconteceu e o que devia ter acontecido, em suma... entre aquilo que somos e entre aquilo que devíamos ter sido ou devíamos ter-nos esforçado para ter sido. Se o nosso pensamento se pautar por estas "lutas" (conflitos internos contínuos), em termos gerais, sobre entre o que é a nossa vida e o que deveria ser, o resultado será uma insatisfação e um sentimento de "impotência" perante a realidade... desta forma cresce dentro de nós um sentimento de incapacidade e de desvalorização daquilo que somos e do que fazemos, aumentando a insegurança decisória, em situações futuras...
Na bolsa acontece o mesmo... os investidores, dificilmente, ficam satisfeitos com as suas estratégias de sucesso e com os seus ganhos, mesmo que sejam grandes... O investidor começa a ter uma vida de relação pessoal com o mercado, e vê este como um seu inimigo, que não o ajuda. Os investidores preferem "encher" os seus pensamentos de um mundo ideal e hipotético ficando todo o tempo a "ruminar" (e não refletir) sobre aquilo que devia ter sido feito, que devia ter acontecido, que devia ter conseguido... "porque não agi desta forma?", diz para si. E é aqui que aparecem os "ses"... "se eu tivesse..."; "se eu fizesse..."; "se não..."; "se acontecesse..." ... se... se... se... se... e mais "ses". Estas "ruminações" levam a sentimentos de culpa, de inutilidade, de revolta com o próprio e pode até chegar ao de desespero... assim, as perdas podem começar a ser maiores do que os ganhos... deste modo o investidor, ou entra numa "depressão" (mais económica do que psicológica, entenda-se), ou desinteressa-se e desiste (na maior parte das vezes) daquilo que mais gosta... de investir, de sentir a adrenalina do comprar e vender, porque está a ser demasiado para si e a colocar em questão a sua saúde, até... enveredar por outros caminhos que não tenham a ver com a bolsa (este é o caminho mais certo): continuar a sua vida profissional, familiar, pessoal e mesmo educacional como se investir ficasse esquecido, não tivesse existido no passado é o meio pelo qual as pessoas se defendem perante a ameaça de ruptura de si próprio e do que as rodeia.

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